PEDAGOGIAS

A mão guidoniana

Você sabia que o solfejo, ou leitura musical cantada à primeira vista, tem uma história que ultrapassa um milênio?

O vídeo a seguir foi publicado pelo canal Early Music Sources (Arquivos de Música Antiga, em tradução livre), dedicado às práticas musicais dos períodos medieval, renascentista e barroco. Ele é um pouco mais longo e demanda uma certa concentração para que seja plenamente compreendido.

O vídeo aprofunda alguns dos conceitos mais conhecidos sobre a origem dos nomes das notas musicais, por meio da demonstração da técnica de solfejo criada pelo monge italiano Guido d’Arezzo (992-1050), até seu desenvolvimento posterior, já no século XVI.

Trata-se de uma pedagogia elaboradíssima, cuja característica principal, que desejamos ressaltar, é o fato dos nomes ut, re, mi, fa, sol e la serem utilizadas de maneira móvel, isto é, relativa. Tais sílabas não se associavam a uma ou outra nota de maneira fixa; ao contrário, as “notas musicais”, no sentido mais contemporâneo, isto é, como alturas fixas, eram tratadas por seus nomes alfabéticos – A, B, C, D, E, F e G – com pequenas diferenças em alguns países.

No vídeo, portanto, as sílabas melódicas ut, re, mi, fa, sol e la são utilizadas como recursos móveis para estabelecer padrões intervalares, o que, em certo sentido, evoca o solfejo móvel contemporâneo (embora não tenha, obviamente, o sentido tonal de que se imbuirão as notas a partir do final do Renascimento e começo do período Barroco).

Lembre-se de ativar a legenda em português para facilitar o entendimento da exposição, e aprecie as belas melodias solmizadas.

Você sabia?: Esta elaborada técnica de solfejo por hexacordes criada por Guido d’Arezzo nos influencia até hoje, não apenas no que se refere ao batismo das notas, mas sobretudo ao propor uma prática de aprendizagem da leitura cantada à primeira vista por meio de um sistema de sílabas relativas atribuídas às diferentes alturas. Além disso, preconizou a utilização de artifícios mnemônicos: além das próprias sílabas, também um complexo sistema que previa a indicação, simultânea ao canto, de uma posição nas juntas e pontas dos dedos correspondente à altura pretendida.